quarta-feira, agosto 15, 2007

A outra (tema ditado por Lord Léo)

Precisava aceitar e acolher a outra de mim. A pequena. A assustada. A ferida. A mulher de um milhão de cicatrizes. Mas não o fazia.
Virava-lhe as costas e lhe oferecia o mais profundo do meu desprezo. Porque era ela quem havia me traído. Ela acreditara. Ela se entregara. Era ela a culpada de minhas marcas e de meu sofrimento. Era inaceitável. Pertenciam-lhe todo o erro e toda a culpa.
Assim nos remoemos, cada uma no seu canto e com seus motivos. Quem tinha feito o que. Quem poderia ter feito o que. Quem poderia ter evitado o que. Quem tinha, afinal, CULPA de cada coisa minúscula que levou ao desastre final.
Assim foi, por muito tempo, até que meu Mestre chegou e me perguntou: “Por que não a acolhes?” Então eu desfiei, feliz, meu longo rosário de reclamações sobre ela. Ele ouviu, paciente, e então me disse: “Não é nada disso, você não a acolhe por que tem medo.” Corei. “Mas o seu medo é parte de você e não pode fugir de si mesma para sempre.
Vendo meu embaraço, ele me consolou: “Por ser parte de você, conhece muito bem o seu medo. Então, na verdade, não há nada o que temer.”
Então eu a chamei e a acolhi num grande abraço cheio de lágrimas. Ficamos abraçadas por muito tempo, sendo, então ela se encolheu e passou a ser parte de mim. Somos uma agora. E sendo uma com ela, pude ver com toda nitidez de contornos a natureza do meu medo. É simples. Eu te amo ainda, muito e verdeiramente.