quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Para a feiticeira da Cadeira de Prata

"– Uma palavrinha, dona – disse ele, mancando de dor –, uma palavrinha: tudo o que disse é verdade. Sou um sujeito que gosta logo de saber tudo para enfrentar o pior com a melhor cara possível. Não vou negar nada do que a senhora disse. Mas mesmo assim uma coisa ainda não foi falada. Vamos supor que nós sonhamos, ou inventamos, aquilo tudo – árvores, relva, sol, lua, estrelas e até Aslam. Vamos supor que sonhamos: ora, nesse caso, as coisas inventadas parecem um bocado mais importantes do que as coisas reais.
Vamos supor então que esta fossa, este seu reino, seja o único mundo existente. Pois, para mim, o seu mundo não basta. E vale muito pouco. E o que estou dizendo é engraçado, se a gente pensar bem.
Somos apenas uns bebezinhos brincando, se é que a senhora tem razão, dona. Mas quatro crianças brincando podem construir um mundo de brinquedo que dá de dez a zero no seu mundo real. Por isso é que prefiro o mundo de brinquedo.
Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero viver como um narniano, mesmo que Nárnia não exista. Assim, agradecendo sensibilizado a sua ceia, se estes dois cavalheiros e a jovem dama estão prontos, estamos de saída para os caminhos da escuridão, onde passaremos nossas vidas procurando o Mundo de Cima. Não que as nossas vidas devam ser muito longas, certo; mas o prejuízo é pequeno se o mundo existente é um lugar tão chato como a senhora diz."

(C.S.Lewis – Crônicas de Nárnia – Vol. VI - A Cadeira de Prata - p. 219-220)

3 comentários:

Anônimo disse...

Um dos livros mais lindos que já li na minha vida.

Samara L. disse...

Sim, e esse o discurso mais lindo do livro. Uma declaração de princípios: prefiro viver perseguindo a realização dos meus sonhos que aceitar as coisas como estão.
E olha que já vaguei muito pelos subterraneos.

Lory Moreira disse...

Olha, tem trechos lindos. Agora não estou com o livro para trocarmos impressões. Mas tem um discurso de Aslam lá que me arrepiou até os ossos. Aquele capítulo sobre a criação de Nárnia é poético. Eu amo esse livro. Definitivamente.