sexta-feira, setembro 18, 2009

Um novo tempo, apesar dos perigos

Uma notícia complicada, mas boa. Depois de quatro anos de tratamento (ou nossa entrada no quarto ano da série, como eu costumo dizer), meu psiquiatra resolveu me livrar do lítio. Ah, mas você estava tão bem. É estava. Mas o lítio dá uma sensação de estafa constante, uma briga boa com o travesseiro de manhã e vai te detonando os dentes à conta-gotas. Quebrando tudo, aos pouquinhos. E eu tenho esse sonho, assim, de chegar aos sessenta com os MEUS dentes na boca.
Ah, mas você nunca contou isso. É, acho que não contei. Mas eu sabia que não podia, assim, simplesmente, parar de tomar. Tem coisas bem piores que dor no corpo e dentes incomodando. Por outro lado, são coisas chatinhas cotidiana às quais você se habitua. E se for para ser chatinha, melhor ser chatinha pelos grandes motivos, que os pequenos são muitos, né? Então. (E eu podia ter engordado vinte quilos e passado por outras coisas bem mais chatas e que eu não cheguei a experimentar.)
Tá, então por que seu médico não trocou antes? Por segurança.
Tipo, mais seguro para mim. O lítio é mais "pancadão" que outros medicamentos, mas mantém a estabilidade de forma mais efetiva. Principalmente pacientes com histórico de ideação suicida (o termo é dele, mas dá pra entender. Não me sinto lá muito à vontade para explicar).
Mas, como eu disse, já se passaram quatro anos. E eu acabo de administrar uma mega crise afetiva em tempo recorde e praticamente sozinha (o psiqui diz que eu sou a paciente modelo dele :)). Meu anjo das pílulas brancas resolveu me emancipar do lítio.
Entra em campo o oxcarbazepina, vulgo Trileptal, que deve dar os mesmos efeitos sem o impacto sobre a dentição e sem a estafa e dores no corpo. Mas, claro, cada corpo é um corpo. Sempre podem ocorrer efeitos não esperados, sempre existe a possibilidade de eu ter que experimentar outros medicamentos ou voltar pro lítio.
Mas ter passado de fase, poder experimentar, é sempre muito bom. Desejem-me sorte.

P.S.: Cibila, moça, cadê você?

terça-feira, setembro 15, 2009

Io ho fatto così...

Um dos meus grandes amigos foi pra Itália. Na verdade, foi passear na Itália e na Croácia, mas essa história se passa na Itália.
Ele viajava com um grupo de amigos japoneses e eles estavam comendo sanduíche de supermercado há quatrocentas refeições. Mas R. é gaúcho, pombas! E fez sua pequena revolução (todo gaúcho carece de fazer uma revoluçãozinha de vez em quando) declarando que daquela noite não passava: ia comer carne! Apesar do custo da refeição os japas toparam. A situação do moço devia mesmo ser desesperadora.
Bom, foram a um restaurante caríssimo, mas conseguiram uma refeição composta por uma entradinha, uma sopinha e... um BIFÃO!!!
Passou a entradinha, passou a sopinha e chegou o esperado momento. Ao servir o desejado, o garçom disse algo sobre estar sem tempero algum. Sem pensar duas vezes, meu amigo se serviu do saleiro. Mas Murphy é implacável. A tampa do saleiro caiu e formou-se, nas palavras do meu amigo, "um pequeno monte Fuji" sobre o bifão. Ele diz que começou a chorar, mas como ele anda sofrendo mutação genética para virar japonês (longa, longa história), talvez a gente não deva levar isso tão ao pé da letra.
Enfim, o garçom veio ver qual era. Acontece que as primeiras línguas desse meu amigo são o japonês, o português e o inglês, não sei se necessariamente nessa ordem, é o que tudo indica. Então ele se saiu com um:

"Io ho fatto così e... kaputt!"

O garçom usou de toda boa vontade para reprimir a gargalhada, mas o clima de seriedade foi para o espaço de qualquer modo. E, sim, meu amigo ganhou um outro bife.


Essa é uma das várias histórias impagáveis que eu ouvi ontem na casa da Bellit, num jantar com ela e o R. Infelizmente, as três garrafas de vinho tinto que tomamos entre a lasanha, o canelone e os doces, apagaram as outras temporariamente.
Obrigada, crianças! Eu realmente precisava disso.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Desafios, derbake, daff-snuj e cerimônia do chá

Sigo com as aulas de derbake. O negócio é tão maravilhoso quanto difícil. Vou criando, aos poucos, o hábito de estudar em casa, o que melhora - e muito - o desempenho de qualquer um. Não tenho problema com tempos, ritmos, nada assim. Meu problema é minha mão esquerda, que não me obedece. (E a direita de quando em vez também dá umas rasteiras.)

A solução para isso, explica meu professor e mestre zen, é a repetição. (A repetição exaustiva leva à perfeição, diria a professora de dança do ventre e mestra zen Daiane Ribeiro.) E não apenas a repetição: a repetição lenta, para tornar o movimento perfeito antes de acelerar.

Acontece que eu sou Gêmeos em Gêmeos, pessoas. Eu faço tudo muito rápido. Eu acelero tudo. Eu acelero relógios e toca discos que ficam em meu poder. É um inferno. E o que é pior: quem disse que eu sou capaz de aprender na velocidade que eu coloco nas coisas? (Esse deve ser meu maior problema com a dança. Pois.)

*digressão* É que a gente vive num mundo em que rapidez é virtude. Borghetinho é considerado um ás na gaita porque toca a 200 por hora. Na DV todo mundo quer ver shimmie a 200 por hora. O que exige um derbake... *fim da digressão*

Bom, enfim, ai o Tuerlinckx me perguntou se eu nunca tinha feito nada lento na vida. Pensei um pouco e respondi com olhos nostálgicos que sim, minhas aulas de cerimônia do chá. (*suspiro* Ai, que saudade. *fim do suspiro"). Aí a gente inventou a modalidade "tocar para a cerimônia do chá".

Nossa aula de derbake fica parecendo um ritual fúnebre indígena, mas confesso que minhas mãos estão começando a fazer as pazes com graves e agudos. Mas claro que não é tão simples.

Não é tão simples porque eu sou completamente louca, medicada e tudo, como todos sabem. E o que uma louca faz quando tudo tá difícil? Pega outra coisa difícil para fazer junto. (Meu professor não deve bater muito bem também, afinal, a proposta foi dele.) E comecei a fazer aulas de daff JUNTO com o derbake. Pessoas, é mais difícil do que parece.

Eu sempre brinquei com o simpático pandeirinho, só que eu tocava como dançarina, com ele de frente pra mim. Agora estou aprendendo a tocar como instrumentista, com a pele de frente pro público. O que dói o músculo abaixo do dedão da mão esquerda vocês nem podem imaginar. E pra advinhar o que é borda e o que é pele "dis costa"? Mas eu A DOU RO!!! Louca de atar.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Casa Z

Ontem fui ao chá de inauguração da Casa Z, da Sayonara Linhares e da Caroline Klipel. A casa se intitula centro de Cultura e Dança Cigana, mas vai ter muito mais coisa rolando por lá: danças circulares sagradas, dança do ventre (com a Gina Vitola, de Porto Alegre), medicina chinesa (na qual a Sayo é especialista há quinze anos) e, logo logo, flamenco.

Elas estão instaladas numa casa antiga e ampla no centro de Novo Hamburgo (r. Lima e Silva, 163 - do lado da Brigada Militar), com aquela disposição gostosa de cômodos que as casas modernas não tem mais. As gurias são de um capricho incrível e nenhum cantinho foi esquecido: das cores vibrantes das paredes e do teto aos menores objetos, tudo dá uma sensação ótima.

As donas da casa dançaram emocionadíssimas, Gina representou as danças árabes e um grupo vindo de Caxias (eu e minha memória ><) apresentou uma coreografia de Malagueña Salerosa que teve que ir pra rua, nas salinhas já não cabia. Foi uma festa muito gostosa, com mais alegria e menos olhinhos tortos do que eu estou acostumada na DV...

Desejo toda a sorte para as meninas e, para quem mora na região, deixo a dica.