quarta-feira, agosto 25, 2010

Privilégios

Hoje eu saí feliz e risonha pela rua. Porque eu fiz minha aula de daff. Toda vez que eu faço aula com o Tuerlinckx é uma benção, porque ele é assim, essa pessoa tão especial. Esse músico tão excepcional, esse professor habilidoso. E, de uma maneira ou de outra, fazemos música - e essa é uma experiência que me deixa muito bem.
Todas as aulas dele me deixam um pouco melhor do que fui - e não falo em técnicas. Fico uma pessoa melhor. De verdade.

(Falando assim, parece que tenho uma paixão secreta pelo moço. E tenho mesmo. Só que não é lá muito secreta. Ele sabe, meu marido sabe, todo mundo sabe. Eu e todas as bailarinas do Rio Grande, ué. Afinal,além de tudo, ele é gatinho pra caraleo.)

Também me sinto assim quando faço aulas com a Daiane. Com ela não tem aulinha. Com a Dai cada aula é uma experiência excepcional com seu corpo e com a música árabe. É viver arte. É magnifico. Desnecessário dizer a pessoa fora de série que ela é e o quanto tudo isso também está no meu processo de transformação.

Com a Sayonara não é diferente. Ninguém consegue fazer aulas com ela. A gente faz vivência. Vivencia-se a vida cigana. Não por acaso, mudou tudo na minha vida depois da Casa Z. (Trans)mutação pura - e quem a conhece sabe que isso não se resume ao palco e à sala de aula. Enfim.

Arte me transforma, arte me faz melhor, arte me faz sentir viva.

Seria tão bom se eu pudesse ter na universidade professores de literatura tão bons quantos meus professores de dança e música. Na verdade, tenho e tive. Mas conta-se nos dedos. São inúmeros os burocratas que trabalham com arte apenas pelo salariozinho no final do mês.

Será que é porque os acadêmicos não vivem (no caso, não escrevem) a arte que fazem? Para mim é mistério. E para você?

domingo, agosto 08, 2010

Meu bar, meu lar - a história do Souq Pub, o melhor point árabe que essa cidade já teve



Então, eu falei desse lugar muitas vezes nesse blog. O Souq Pub era o ponto de encontro do povo que ama cultura árabe em Porto Alegre, uma casa gostosa e aconchegante na Ramiro Barcelos, onde nos reuníamos para fumar shisha, tomar cerveja, comer petiscos árabes, dançar, conversar e fazer planos mirabolantes.
Mas o lugar fechou. O Rafa foi com a Anisah para o Oriente Médio e hoje em dia a casa está para alugar.
É sempre chato quando um lugar legal fecha em Porto Alegre, que é tão carente de lugares legais para gente de gosto fora do comum. Mas com o Souq a coisa foi um pouco mais séria. Não é todo dia que o dono do bar é seu chapa - não, ele não apenas te conhece do balcão e do caixa, ele tem os mesmos interesses, os mesmos gostos, viajou para os lugares que você gostaria de conhecer e trouxe as coisas que decoram aquele espaço tão gostoso.



O Rafa é um cara muito legal e todos sentimos saudade dele. E da Anisah (Vanessa, pros da casa), que além de uma bailarina deliciosa é um amor de pessoas. Uma menina querida de Pelotas, inteligente, espirituosa, geminiana, amiga e divertida. Um doce de coco que PoA perdeu para condições melhores de trabalho.
Além de frequentar o bar, por um bom tempo eu fiz aulas de dança com a Daiane Ribeiro lá, às tardes. Depois era só descer, pedir uma shisha, tomar uma cervejinha, botar as fofocas em dia.


DAIANE RIBEIRO:Muito mais que mestra e uma das melhores raqsas que já conheci, amiga de todas as horas. Que me entende como só podem as geminianas...

Nunca antes e nunca depois eu me senti tão bem num estabelecimento comercial (ok, comercial era quase modo de dizer...), tão à vontade. Não me preocupava em me produzir, não me preocupava com a conta (se gastasse mais do que tinha no bolso, acertava com o Rafa na vez seguinte - era um pacto de confiança,ele nunca fez cara feia, eu jamais deixei de pagar), não me preocupava se as pessoas com quem eu marquei já tinham chegado ou não. Porque o Souq era um bar onde eu nunca ficava sozinha. Ainda que o nosso impagável Celso (o melhor preparador de shisha ever),o Rafa ou a Anisah não estivessem ou estivessem muito ocupados, eu podia simplesmente ficar num canto sozinha e curtir a trilha árabe (sempre excelente, graças ao bom gosto do Rafa).O Souq tinha um clima assim tão legal que uma mulher podia frequentá-lo tranquilamente sozinha, sem a possibilidade de ser importunada por algum bêbado ou coisa do tipo. Saudade grande da luz colorida naquelas paredes...



Outra coisa muito legal era a quantidade grande de eventos relacionados à musica e à dança. (Incrivelmente, tivemos shows internacionais espetaculares para quarenta pessoas... Porto Alegre é um ovo que gosta e faz tudo para permanecer isso mesmo: um ovo.)
Além disso, jamais haverá um lugar para as loucas dançarem com tanto conforto e liberdade. Instalações decentes para nos trocarmos,liberdade para fazer festas dançantes, para conferir CDs e DVDs que levávamos em reuniões de bailarinas. Uma quantidade boa (incrivelmente boa, em termos locais) de gente junta que respeitava e amava a arte.


Cartaz de um dos eventos, estrelado pela bela Anisah.

Foram tantas reuniozinhas para planejar shows (muitos que jamais se realizaram), trocar material, ver gente dançar/tocar, botar o papo em dia. As impagáveis festas de aniversário. Sou uma nostálgica irrecuperável, poderia escrever horas.


Meu aniver de 2009 - em azul, Zahira-Fernanda,grande dançarina e amiga baladi desse coraçãozinho baladi.

Amigo Grifo tem a teoria que o Souq era tão bom porque, mais do que estabelecimento comercial, era um lugar para reunir gente com interesses afins. E que por essas mesmas características acabou se tornando inviável financeiramente. Pode ser. Eu mal e mal consigo que me consolar com a idéia de que foi melhor desaparecer assim do que decair um dia.
No Souq, eu fortaleci a amizade com a Daiane e com a Zahira (Fer, pros de casa). Eu conheci o Tuerlinckx, primeiro como professor, depois como o amigo insubstituível que se tornou, pessoa de essencial importância na minha vida. E também o pessoal da casa (Rafa,Anisah e Celso), claro, o Gabriel (que fazia aula de derbake também,com o Rafa),o Grifo.


FABIANO TUERLINCKX:percussionista excepcional, professor e um dos amigos mais doces e generosos que o mundo me deu. Indispensável e insubstituível.

Dentro daquela casa eu ri, argumentei, falei bobagem, dancei, cantei, beijei, chorei, abracei muita gente por variados motivos. Foi um lugar que concentrou uma camada de emoções bem intensas para mim. O bar fechou, mas, enquanto eu estiver viva, sempre terá uma luzinha verde acesa em alguma fachada da minha memória.

terça-feira, agosto 03, 2010

Do mais santo dos remédios: o tempo

(Coisa que eu mais amo é quando essa merda dá pau e eu perco o post inteiro como há segundos. Ok, vamo lá de novo.)

Quem me conhece bem, sabe que não vivo sem os meus amigos. Sei que consigo suportar qualquer coisa com eles por perto, o resto eu não sei. Depois de velha admiti para mim mesma que meus amigos tem importância maior na minha vida que meus amores - salvo os raros casos em que os amores se tornaram amigos.
Sendo assim, adoro fazer amigos novos e reencontrar amigos. E se tem algo que me chateia, mas me chateia muito, é perder um amigo. (Até aprendi a administrar a situação com a idade, mas gostar também não é o caso.)

Pois que hoje foi um dia deveras supimpa, porque eu fiz uma coisa que realmente me dá muito prazer: recuperei um amigo.
Perdi a amizade do moço em questão porque esta se desenvolveu em conjunto a uma paixão mal-resolvida dos diabos. Como temos em comum a impulsividade e a passionalidade, deu uma merda bonita de se ver. Explodimos em gritos, lágrimas e ranger de dentes. Mexicano.
Enfim, o tempo passou e a paixão com ela. Mas a saudade do amigo com quem tenho grande afinidade e com quem me divirto muito permaneceu. Foi bom descobrir que, de alguma maneira, a recíproca era verdadeira. (Eu jurava que o moço ainda rosnava à menor menção do meu nome, quando na verdade éramos dois a nos espiar furtivamente na Internet.) Enfim, foi um troço bem bacana.

Essa transição de paixão pra amizade é uma coisa que traz inúmeras vantagens. Tipo como ser tia, que só pega os melhores flashes da maternidade.
Marido (namorado/amante/whatever) eu só posso ter um por vez (e estou muito satisfeita com o meu, obrigada), amigos eu posso ter todos ao mesmo tempo agora!
Amizade não tem ciúme, não tem jogo, só levanta sua auto-estima. E a parte que eu mais gosto: havendo caráter dos dois lados, a tendência é que dure para sempre! (Que o digam meus amigos do Pleistoceno!)
Tá, não vou negar que uma amizade que tem um histórico romântico gera um tipo de afeto especial. Como costuma dizer meu primeiro grande amor (e um dos meus melhores amigos para todo sempre, arigatô Kami-sama!): "sempre teremos Paris". Mas é o tipo de diferencial que se dissipa com o tempo e não traz nenhum ônus nem risco. Acho que até pelo contrário: economiza muitas explicações.

Aproveito a oportunidade para ser piegas: meus grandes amigos espalhados por esse mundo, de todas as épocas, sejam os que nasceram meus irmãos ou os que se tornaram - amo MUITO LOUCAMENTE todos vocês! Cada um de vocês, a seu modo, é essencial na minha vida.
Ao moço em questão, caso ele leia este post: OKAERI NASAI! (Bem vindinho de volta, em japonês.^__^)