quinta-feira, agosto 24, 2006

Das luzes, do frio, do medo


Cada luz na cidade era uma lâmina e as pessoas não falavam sua língua. Sozinha, sozinha e cada coisa nesse mundo a fazia sofrer mais e mais.
Ela corria, corria, a cidade era bela, mas doía. Era tanto, tanto frio. O concreto era frio, os metais eram frios, o vento. A cidade era toda tão dura e impenetrável e as pessoas falavam aquela algaravia que ela jamais poderia entender. Um canto quente, era tudo o que ela queria: calor e um esconderijo desse mundo que doía.
Quando o enviado veio, ele não a tirou da cidade. Ele não trouxe alguém que a aconchegasse. Nem a levou para um esconderijo. Ele apenas puxou, docemente, o fio de aço que prendia todos os seus nervos e a fazia ver tudo pelo olho da tensão, do medo. O fio escorregou e escorregou por dentro dela, finíssimo e sinuoso, por um longo tempo. Quando ela abriu novamente os olhos,conseguia ver na cidade, um lar. E nos homens, seus irmãos.
E ele voou para longe com o aconchego da missão cumprida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom.