quinta-feira, agosto 24, 2006

Instrumento

Ela havia prometido nunca mais fazer aquilo. Guardara o instrumento embaixo de um móvel e nunca mais tocou nele. Mas o amor tem razões e se move dentro da gente.

Era uma noite triste e fria e ela estava completamente sozinha. O mundo a havia estapeado novamente. Tudo nela era cacos. Foi então que, sem conseguir ouvir as promessas que fizera a si mesma, ela se agarrou a ele. Pegou-o de sob o móvel onde o escondera e o arrastou para cima da cama, com ela.
Com o instrumento, veio todo o amor e todo o sofrimento. Mas, principalmente, toda a força do sentimento. Chorou, falou com ele, colou sua pele quente de lágrimas sobre a pele dele. Colou-se. A pele parecia quente como a do amante que um dia os possuíra: a ele, instrumento; a ela, amante.
A força do sentimento foi tão grande quanto o desejo de fusão - no instrumento e nela havia ainda amor suficiente para isso. De um modo que não pode ser explicado, fizeram amor. E ela nunca mais foi encontrada - tudo o que se achou foi um derbake sobre a cama, com uma estranha rosa impressa na pele transparente. Mas a sensação que se tinha é que ela havia nascido lá dentro.

2 comentários:

Bruna disse...

Estou muito feliz de poder ler teus textos novamente.
Eles sempre tem algo a dizer para mim também.

Anônimo disse...

Lindo...
Lindo!!!!