domingo, fevereiro 25, 2007

Daquilo que cremos ser cumplicidade

Algo em torno das duas da manhã. As batidas na porta são muito fracas, mas ele estava atento, esperando, ouviu logo as primeiras. Abre.
"Rato molhado" foi a primeira expressão que ocorreu a ele quando a viu enrolada no casaco grande demais. Chovia torrencialmente lá fora e ela certamente não se incomodara com guarda-chuvas. Não estava encharcada, mas toda uma umidade exalava do seu corpo.
- O que foi dessa vez, Lê?
Ela não respondeu. Deu um sorriso sem graça e entrou. Deu um beijo no rosto dele. Nesse momento, ele esfregou seu ombro gelado. E ela desabou. Caiu chorando no colo dele. Era um abraço caloroso e apertado, mas não tinha nada de sexual. A própria palavra sexual teria conotação de incesto numa situação daquelas. Muitas vezes precisamos nos despir da própria libido para ficarmos de alma nua.
Sentaram no imenso sofá cor de creme. Ela se enrodilhou no colo dele.
- Você não toma jeito mesmo, né, Leda. Quando é que você vai parar de sofrer?
Ela riu derramando lágrimas e começou sua narrativa. Ele era todo ouvidos e ela não tinha a menor dúvida disso.

- E agora, Bob, como é que eu vou me reconstruir dessa vez? Como ainda vou ter força para montar tudo de novo? Acho que estou começando a ficar velha demais pra isso.
- Deixa de ser boba. Claro que vai conseguir. A gente sempre conseguiu, não é?
O "a gente" foi o suficiente para fazer com que ela risse sem lágrimas, pela primeira vez.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gosto da esperança que se acende novamente nos seus contos.

Poisongirl disse...

Concordo com a Lorena , é bom ver a volta da sua esperança refletida nos seus textos.