quarta-feira, maio 30, 2007

Distância

Não conseguia chegar em casa, algo dentro de si impedia o final do trajeto. Pegava o ônibus errado de propósito, aí ia descer onde dava para pegar o ônibus para casa e não descia, deixava para ir mais adiante, até que num deles desceu no centro da cidade e agora ficava fácil. Era só atravessar mais uns metros de ruas em direção ao rio, que ela chegaria no ponto final do ônibus que passava ao lado da sua casa.
Eram alguns metros, mas viraram vários, ela se perdeu inúmeras vezes no que seria uma reta e andou, andou, andou muito além do que achava que suas pernas podiam suportar. Mas havia uma lógica nessa matemática esquisita de metros e minutos.
Por dentro, ela fazia uma força imensa para manter distante o que se queria próximo, para afastar lembranças antigas que se mantinham com o frescor do ontem, para cessar o diálogo interno com alguém que não existia mais. Essa luta interna foi o que a manteve distante inúmeros passos e um longo tempo e que a fez chegar exausta, enfim, à casa vazia.

Um comentário:

Bellit disse...

Inspirado na vida real....