domingo, maio 23, 2010

Enquanto isso, no auditório do prédio de Letras...

A palestra era lida e sobre um assunto nada fundamental para nenhuma de nós. Quinze páginas lidas len-ta-men-te. O horário tardio. Jogo do Inter por começar. O tédio grassa.
Aí eu me saí com uma das soluções antitédio do tempo da USP: texto "surrealista". Escreve uma primeira frase esdrúxula, passa pro próximo do grupo e vai completando. Claro que os assuntos pessoais acabaram tomando conta e o negócio foi ficando cada vez menos surreal e cada vez mais voltado para os incômodos sobre a vida acadêmica e com a palestra.
Deu nisso aí. Um clássico da literatura de canto de caderno. Mas antes de você ler isso tudo, se é que você não é de nosso grupo e ainda se dispõe, é importante que você saiba:

1) Tínhamos todas acabado de ler uma versão em e-book de "O Rei de Havana" de Pedro Juan Gutierrez, onde há muita linguagem chula. Por um problema de digitalização, toda vez que aparecia a palavra "cu", vinha grafado "eu". Logo pegou a moda de mandar tomar no "eu" entre os alunos.
2) A palestra, sobre um ciclo de livros angolanos de Pepetela, abordava entre outras uma obra chamada "A Chana", que parece que é uma região de lá, enfim. Na minha terra, a palavra significa outra cousa.
3) O prof. X é o organizador desse ciclo interminável de palestras a que vamos obrigadas pelas normas da CAPES. Nem elas (as palestras), nem o professor, primam pela busca de assuntos relevantes para nossas pesquisas, nem pelo desenvolvimento agradável e jamais pelo senso de humor.
4) Estávamos em seis. Não revelo os nomes nem sob tortura. Não sei editar essa merda em cor, portanto vou usar negrito e itálico para diferenciar autorias, mas, claro, não significa que todas os trechos em negrito, por exemplo, sejam da mesma pessoa.

Então vai:

O padre se chocou com a porca imagem. A cruz caiu do céu vermelho. Eu estou sentada no banco traseiro do carro comendo amendoim. Vou tomar um porre de utopias. Ponto final escuro e branco. Uma árvore muito balançada fortalece as raízes. Sigo viagem até Tupanciretã, com medo do que posso encontrar. Mas finalmente vou conseguir comprar minha vaquinha verde! Estou com medo que a "Chana" tome forma humana e me engula. Tomou chá preto e se suicidou com bolachinhas rosa pink. Foi ler uma Havana povoada loca da Marcia. Tem que ser ninja! Já vou tarde porque acordei ontem e hoje estou dormindo! E se dormir vou sonhar com Reynaldo e sua poderosa pica de 22 cm. Que prometeu vir pro Brasil e virar "el rey de Santa". Que livro é esse que não li e que voz é essa que faz eco na minha cabeça oca. Uma narrativa bêbada. Só se eu colocar o copo de vinho na frente da TV para ver Édipo Rei. E dormir e esquecer do mundo, ô vontade! Subjetividade é eu assumir o relativo e o subjetivo e resolver dar o meu "eu" para o mundo. Dar o "eu" para o mundo é importante, pois feliz é quem dá com alegria. Jesus disse: "-Quem dá, RECEBE!" Cansada, cansada, meu "eu" usado assim sem dó nem piedade. Eu não quero falar de um "eu" que anda em desuso. Se o uso fosse mais usado o desuso valorizaria a casa de cãmbio. Não estou pensando nesse elo perdido porque a dor maior é não poder chorar quando não se quer ouvir bobagens. O fato é que a palestra sobre os umbundos e quimbundos deixa os pós-graduandos furibundos. E vou-me embora para Tupanciretã... Mas a saudade maior é da fronteira... E Rivera e seus perfumes me esperam. Vamos suprir as carências num impulso consumista, pois o inferno são os outros, e não há saída, muito menos para uma libriana sensível. Ou para uma geminiana confusa, que mantém seu cérebro transitando por todos os paraísos artificiais e infernos reais possíveis - qualquer deslocamento que permita alguma salvação da morte pelo tédio. Mas o maior tédio sde uma mestranda são as quintas-feiraas... loooongas quintas-feiras! Porque nesta vida tudo passa, até a uva passa, mas as tarefas de produtividade da CAPES não passam. Se estamos falando de simbólico simplesmente não saímos da superfície e superfície macia só a minha cama agora. Agora nem cama nem jogo do Inter; é esse o motivo da expressão de desalento do X.: o jogo está para iniciar e os compromissos acadêmicos o prendem numa sala morna e translúcida. Eu conhecia CHANA como apelido do órgão sexual feminino. Só podia ser coisa de uma doutora que foi aluna do Costa Lima e que tem a boca invertida. Se eu fosse um "Kamundongo" eu não entraria nesse buraco embora tivesse um nariz enorme. Porque o Kamundongo sabe que a boca está no campo simbólico da Chana invertida. MAS NÃO ESQUEÇAM... A Chana é árida e Agostinho Neto é o Rei de Angola... Mas o maior problema na academia é a falta de Panga. Agora a Chana está aberta e inóspita então! E ela é real, não se esqueçam, pois o guerrilheiro se encontrou com ela, e viu estrelas no céu. Mas aqui não há um Rei real, apenas representação.. Os "Eus" são apenas abstração nessa Pós. E como aqui tudo é abstrato, vou-me embora para Pasárgada. Lá tenho o homem que eu quero, na cama que escolherei, uma cama concreta com um ser concreto. Liberar o "eu" de seu desuso absurdo. Também estou louca para sair de dentro da Chana e ir para minha casa, desarticulada e desalojada. Vida de mestrando é difícil, é difícil como o que... Como um mbambi dentro da Chana! Ninguém conhece Marx mas o sólido que se desmancha é sempre citado, parece que ele só disse isso. E depois dessa: "Tchau, I have to go now, I have to go now!" Falar em jogos de futebol, Tupanciretâ (obs: cidade natal do prof. X.) se representa de camisa vermelha! E o Professor pensa: "- O Inter está entrando em campo." "Digo, na Chana!" Ele tenta se concentrar, mas tá foda. Nesse momento cantamos: "não posso ficar nem mais um minuto com você..." E vou exilar-me em Luanda, depois me perguntem como foi. Vai ficar com o Malongo! Vai que o Malongo é bem dotado e se torna "O Rei de Angola"? E joga futebol só que não joga no Inter que vai jogar daqui a pouco. E o X. não vai ver! Isso é pelas torturas de 5a. de manhã! (obs: as aulas) CASTIGO! E o mais impressionante é o efeito Lacto-Purga que essa abstinência futebolística terá sobre ele! Tentando entender porque meu pensamento não processa e mesmo assim estou aqui ouvindo tudo que cai na profundidade e no vago do meu cérebro. Porque todos os valores são relativos à exceção da bolsa CAPES e da pressão do orientador. A academia é o lar dos absurdos. E o pior que nem bolsa tenho, só um orientador mala que inventa BOBAGENS MENSAIS! Palestra mensal é pior que menstruação e "epílago". Bom, acabou.

2 comentários:

Anônimo disse...

Pertinentíssima a relação com o eu.
Hehe... Divertida a narração de vocês. Vocês, intelectuais, quando resolvem ser engraçados, me divertem deveras!

Samara L. disse...

Nós, quem, cara pálida? kkkk