segunda-feira, dezembro 27, 2010

10 Especificidades de 2010

Assim como 1992, 2010 foi em minha vida um ano muito fértil em acontecimentos, muitos sem precedentes. Claro que não posso explicitar todos os detalhes de todas as coisas, mas achei curioso anotar assim, em forma de tópico, só para não perder o registro.
Em 2010:

1) Eu descobri a cigana dentro de mim. Uma herança genética soterrada por décadas de educação formal e niponização (não que eu tenha deixado de ser japa também). Nunca a palavra liberdade teve antes tanto sentido e importância. Nunca minha ligação com o mundo que não pode ser visto pelos olhos foi tão forte. Nem tive tanta consciência das conseqüências de minhas escolhas. Nunca estive tão confortável dentro do meu corpo.

2) Aproveitando a deixa, nunca estive tão confortável no meu corpo é um item por si só. Tratei ativamente minha lombar que sempre e muito me incomodou com muita massagem, moxa, ventosa e acupuntura – e me sinto bem como nunca. Perdi um bom tanto de peso também – sim, ainda muito longe do padrão. Mas me sinto ótima de verdade – como não me sentia aos 20 com quase dez quilos a menos.
A melhora na minha postura – resultado da dança também tem muito a ver com isso.

3) Voltando ao outro mundo, conheci, no interior, pessoas especialíssimas que me ajudaram a retirar o véu sobre meu passado remoto. Digo, remotíssimo. Isso teve uma série gigante de conseqüências, todo um desenrolar de acontecimentos nesse segundo semestre. A maioria eu não posso citar aqui, mas um dos mais importantes foi ter finalmente me livrado de uma dor/pesar/rancor antigo e reconquistado o contato e a estima de uma das pessoas mais importantes da minha vida. (Sim, senhor papai de uma elfa, é do senhor mesmo que estou falando.)

4) Alonguei meu desempenho acadêmico ao máximo, sem vacilar e sem medo de errar. E obtive resultados muito bons – animada pelo bom desempenho no processo seletivo, não nego.
E não digo desempenho acadêmico no sentido de avaliação burocrático da CAPES, de proodução e publicação de texto, não. Mas de desenvolvimento da minha capacidade de reflexão, mesmo. De aproveitamento de leituras. De expressão da minha opinião sem o receio de estar errada, falando bobagem (pânico que me perseguiu na minha vida acadêmica toda até aqui), de ter uma opinião diferente, de ser estrangeira, estranha, exótica. Sou mesmo e daí?
Claro que isso me rendeu alguns narizes torcidos e comentários pelas costas – e uma nota indesejada, ainda que suficiente. Tudo o que faço me rende. Mas consegui também o reconhecimento de algumas das pessoas cujo trabalho mais admiro dentro daquela universidade. Isso valeu o ano, com toooooda a certeza.

5) Consegui um trabalho fabuloso, do nada. De bandeja. E perfeito para mim. Com gente que eu respeito,
Isso é absolutamente inédito na minha vida, tudo comigo é parido a fórceps, difícil de todo. Realmente parece pouco para quase todo mundo, mas para mim é um fato de importância inédita.

6) Desenvolvi um estilo de me cuidar, me maquiar e de vestir. Integralmente. Com todos os sustos, galabias, excesso de acessórios e mistura de cores que podem ter assustado muita gente. (Num estilo rasgado de forte influência leonina como diria Luis Fernando, um de meus amigos astrólogos.) Aliás, descobri que cor é uma coisa que atua loucamente no meu estado de espírito e passei a participar ativamente da brincadeira.
Como não tenho nenhuma vocação para a pintura ou para o desenho, isso passou a se expressar em roupas e acessórios, maquiagem e, principalmente, esmaltes.
Foi o ano em que deixei de achar que fazer as mãos é importante para me tornar uma colecionadora de esmaltes. Foram quase cinqüenta cores adquiridas só este ano. De novo, uma bobagem para a maioria das pessoas, mas um tremendo avanço para a minha suprema rigidez nipônica assumir uma “futilidade” desse naipe.
Cometi ainda a suprema ousadia – para uma pessoa com a minha formação e influências, friso bem – de colocar um piercing no nariz. Vocês nem imaginam o que isso representou para minzinha! (Sei que tá cheio de menina de 15 com piercing até no clitóris (ui!), mas, repito, sem a minha experiência de vida.) As três tatuagens programadas ficaram para 2011 por questões meramente orçamentárias.

7) Voltei, depois de um intervalo de uns cinco anos, a cozinhar e escolher minha comida. Toda diferença do mundo. E com uma destreza que eu não sabia possuir.

8) Descobri, em ocasiões diversas, o peso da minha palavra. Em todos os sentidos possíveis.

9) Terminei definitivamente um casamento de 15 anos e voltei a morar com minha mãe, eu tomando as decisões e gerenciando tudo. Penso que dispensa comentários e, se não dispensar, eu dispenso.

10) Finalmente, esse foi o ano em que minha vida foi totalmente modificada por dois beijos.
Duas ocasiões diferentes, duas pessoas diferentes. Dois beijos apenas, nada além disso. Cada um deles atuou num aspecto diferente da minha vida e o modificou – para sempre. O mais engraçado é que os vetores dessas mudanças talvez jamais tenham plena noção do que esse ato, para eles talvez gratuito, teve de alcance. As ironias.

Acho que para um ano só, tá de bom tamanho, non?

(26/dez/2010)

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